segunda-feira, 16 de julho de 2007

O Bairro

O carrinho de rolimãs desce a rua,
no boteco a vagabundagem toma uma.
Observo quieto alguém fardado sacar o berro.
Descem do carro assustados,
as armas estão apontadas,
os jovens com medo.
Mas não interessa este desfecho
e sim todo o contexto.
Alguns fogem da desigualdade,
disfarçando uma possível estupidez
trancados em seus aps.

E é normal ninguém achar estranho.
Não sou de longe daqui.
Sou de onde isto tudo seria visto com louvor e espanto.
É diferente de tudo antes visto,
é o futuro prometido.
Em cada esquina uma conversa,
em cada prosa um universo,
muitas diferenças,
muitas realidades e tudo em um único bairro.
Como um poema de um único verso.
Todos os néons apagados,
trabalhadores afobados!
Agora quando néons acesos!
Olhem! São os operários do cortejo.
Respeitem-nos! Além de trabalharem onde buscas a diversão,
eles dão a vida e não aceitam o pedido de perdão,
todos possuem reputação.
Doutor, padre, prostitutas, operário, político, vagabundo e ladrão,
todos contribuem pra manutenção, do mesmo modo de produção.

A noite é de céu prata,
com um leve tom avermelhado,
um manto cinza com manchas cores de tacho.
O dia é afobado, barulhento e calado.
Milhões caminhando sós no grande aglomerado de concreto,
muitos comércios, poucos empregos, carros por todos os lados
e ônibus superlotados. Todos parecem solitários.
E tem os moradores das vielas enrolados em jornais
passando sede, fome e frio enquanto tudo os atropela.

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