sábado, 10 de janeiro de 2009

O último muro

Os olhos condenados ao escuro...
Noção de visão submersa!
Imerso no seu paletó de madeira...

Caminha para o desconhecido.
Sob as lágrimas de sua mãe.
Carregado pelo pai e irmãos;
Assistido pelos filhos e sobrinhos.
Pelos inúmeros parentes.
Por um turbilhão de amigos...

Coberto pelo inconcebível.
Tragado pelo imperceptível.
No inexplicável caminho.

Aquele último muro se fez entre ele e a gente.
Lenta e calmamente, uma vulgar estrutura solene...
As últimas flores lhe são lançadas...
Estão sobre o seu paletó.

Alguém se agacha com seu forte espírito.
Faz ranger seus cansados ossos.
Ajuda com os tijolos.
É o muro de seu filho...
Seu primogênito, um de seus amados.
Um de seus queridos.

Do alvorecer ao anoitecer...
Sempre... Lado a lado aos pais.

O ritual está selado!
O último tijolo compõe o muro.
É um local sagrado:
Cantigas, lágrimas.
Gestos... Gestos... Gestos!
Palavras...

E o muro encerra a despedida de sua existência.
De sua consciência.
De seu corpo.

Não encerra as lembranças.
Seu sangue, seus filhos, seus netos.
As memórias, os sonhos, as esperanças.
Está tudo coroado...

E então, diante meus sentidos molhados...
O vulgar muro e todo o túmulo...
Transformam-se em um florido jardim.
***

Em memória do Tio João.

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